Desde que assumiu a equipe, este é o momento em que ele pode realmente corrigir os erros e montar um time preparado para a Copa do Mundo
São irrelevantes os termos usados por Tite na condução de seu trabalho.
Ele já fez excelentes trabalhos utilizando este discurso. Os extremas foram desequilibrantes; o corredor ficou fechado e a equipe soube flutuar pelos flancos.
Quando a seleção brasileira estava bem nas Eliminatórias para a Copa de 2018, o palavreado era apenas um detalhe. O gol era o mais importante, assim como as atuações convincentes.
Tal cenário de céu de brigadeiro foi prejudicial. Agora, o treinador está com a imagem de acuado, após o empate contra o Panamá. Nem mesmo a série de vitórias após a Copa do Mundo tem servido para acalmar o ânimo dos torcedores e da opinião pública.
Isso pode parecer o início de um drama, mas tem tudo para ser algo saudável, se levado de forma adequada. O jogo contra a Bélgica, no Mundial, a única derrota de Tite em jogos oficiais pela seleção, pesou contra o treinador. Ficaram em xeque todas as outras partidas sem derrota.
A situação atual é distinta. Os problemas estão surgindo no meio do caminho. E, diante dessa pressão, após o mau resultado contra os panamenhos, Tite tem a sua maior oportunidade de reconstruir a seleção. Ou melhor, de construir.
Maior até do que no momento em que ele assumiu, em junho de 2016. A seleção vinha de uma série de fracassos. Envolta no descrédito, a equipe não deslanchava.
Os jogadores estavam ansiosos e inseguros. A presença do treinador, com sua temperança e seu discurso sereno, serviu para ajudar a colocar as coisas no lugar naquele momento.
Consciente, Tite soube unir o grupo, reconduzi-lo ao caminho de vitórias com um ajuste ou outro, como a feliz inclusão de Renato Augusto na organização das jogadas, algo que o atencessor Dunga não havia feito.
De sexto lugar nas Eliminatórias, o time foi crescendo, até chegar ao fim da disputa na liderança folgada. Para não dizer fácil, foi simples para o treinador acertar, em um momento em que tudo estava dando errado.
O que viesse seria bem-vindo e, com um bom trabalho, Tite conseguiu recolocar a seleção nos trilhos. Mas agora fica nítido que os problemas acabaram sendo ocultados pelos bons resultados.
Na Copa, em si, o time mostrou um inédito descontrole, o time não se encaixou bem, sintoma que pode ter vindo do fato de que, até então, sob o comando de Tite, prevalecia a acomodação e uma certa presunção de que o caminho já estava traçado.
Contribuiu para isso uma quase nula pressão por resultados, em se tratando de seleção brasileira. Quando ela veio, os jogadores sentiram.
Por isso, neste momento, empates como o do jogo contra o Panamá, são até benéficos. Podem ser dolorosos e deixar Tite com um semblante abatido. É menos sofrido, porém mais enganoso ser unanimidade.
Agora, pelo menos, as fraquezas da seleção estão sendo expostas. Em um momento em que elas podem e precisam aparecer. Para serem corrigidas a tempo. Dentro de um time que, neste ciclo, está sendo formado pelo próprio treinador.
A maior tarefa de Tite é não deixar ele e seus comandados se abalarem com os resultados de agora, pensando no amanhã.
Nos últimos tempos, o Brasil se acostumou a ganhar título da Copa das Confederações (1997, 2005, 2009 e 2013), Copa América (1989, 1997, 1999, 2004 e 2007), que poderiam manter qualquer seleção do mundo em alta por muitos anos.
Até Messi estaria satisfeito se tivesse vencido uma Copa América pela Argentina.
Mas como a exigência na seleção brasileira vai muito além, aquilo que realmente interessa é vencer a Copa do Mundo.
Até mesmo uma boa campanha em Eliminatórias perde o sentido sem um bom desfecho.
Neste sentido, estas competições, que logicamente são importantes e devem sempre ser encaradas com seriedade, acabaram não tendo um complemento.
E serviram como um escudo de proteção que, no momento derradeiro, em nada protegeu.
Tite agora está montando a sua equipe. Com ele estão despontando Richarlison, Arthur, Paquetá e uma nova safra.
A história mostra que a lapidação de uma equipe geralmente é dolorosa.
Mas é a única maneira de, quando ela estiver pronta, encarar a pressão com muito mais equilíbrio emocional, sem se contentar com vitórias de Pirro. A bola está pingando para você, Tite. Ou, se preferir, pingabilidade. Não importa o termo.
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