Alzheimer sem filtro: cineasta retrata o drama de doentes e cuidadores que vivem na periferia

O Mal de Alzheimer não faz distinção entre ricos e pobres, mas o dia a dia da doença é diferente quando há recursos para cuidadores profissionais em tempo integral, sessões de fonoaudiologia, musicoterapia e arteterapia. Nada disso está presente no documentário de estreia de Albert Klinke, “Alzheimer na periferia”. “Retratar a periferia é retratar o Brasil”, ele resume. O filme tem argumento do jornalista Jorge Félix, que há anos milita na área do envelhecimento e é autor do livro “Viver muito”. Embora nunca flerte com a pieguice, é difícil conter as lágrimas ao conhecer as cinco histórias contadas pelo cineasta. Foram mais de cem relatos que passaram pelas mãos de Klinke e ele afirma que os depoimentos vinham naturalmente: “as pessoas querer ser ouvidas, querem compartilhar os perrengues. E uma das coisas que mais me impressionaram foi como, apesar de todas as dificuldades, elas se ajudam e dão um jeito na situação”.

Vamos às histórias. Paulo cuida da tia Leonor, que tem Alzheimer avançado, e se pergunta: “eu sou sozinho. E se ficar doente, quem vai cuidar de mim?”. A solidão do cuidador teve um desfecho triste: Paulo morreu na semana da pré-estreia do filme. Quem desempenha esse papel sabe como é solitário e desgastante. Vanusa deixou o emprego de auxiliar de enfermagem para cuidar da mãe, Valderice. As duas vivem com a aposentadoria que o pai deixou, e ela complementa a renda fazendo bicos: é manicure, lava e passa roupa e o que mais surgir. “Quando a gente perguntou de quanto precisaria para ter uma vida tranquila, Vanusa respondeu: 500 reais a mais no fim do mês”, diz Klinke, repetindo devagar: “500 reais”.

Márcia, ainda na casa dos 50, havia sido diagnosticada com demência pouco antes do início das filmagens. Na pré-estreia, já andava sendo amparada. Maria José e Daniel estão, ambos, em seu segundo casamento, e o maior medo dela é “faltar” e o marido ficar desamparado – embora ele tenha sete filhos. Dona Cida consegue ter uma rede familiar de amparo: os filhos moram no mesmo terreno, em Brasilândia, e todos se revezam no cuidado. Além de filmar, Klinke entregou uma câmera para os cuidadores fazerem um diário. Vanusa foi uma que usou muito esse recurso, por isso vários áudios seus foram aproveitados.

Valderice e a filha, Vanusa, que deixou o emprego para dar assistência à mãe — Foto: Divulgação
A pré-estreia foi no início do mês passado, mas a obra ainda está sem previsão de entrar no circuito comercial – infelizmente, faltam salas para documentários, e ainda mais se o tema é espinhoso. Por enquanto, foram feitas apresentações em universidades e Klinke, que também foi criado na periferia paulista, decidiu disponibilizar o filme na plataforma Vimeo: “só quero que as pessoas assistam, vejam o que acontece”. A doença atinge quase 36 milhões de pessoas no mundo e, aproximadamente, 1.2 milhão no Brasil, de acordo com a Associação Brasileira de Alzheimer.
Fonte: G1

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